Hoje vamos falar de uma mulher com quem tive prazer e o privilegio de correr junto na primeira corrida em que participei há um ano atrás.
Não a conhecia e acabou me motivando ainda mais naquele dia por saber que estaria correndo com uma pessoa que estava sendo exemplo para
muitos por sua idade e força de vontade....acabei percebendo com o tempo que não há
nada mais comum no mundo das corridas do que aqueles personagens marcantes.
Gente que a gente encontra quase em todas as provas. Alguns gostam de se
fantasiar, outros vestem a coleção de roupas e tênis da moda. Há também aqueles
que correm de um jeito estranho, os que acham que correm mais do que
correm, os que tem peças de estimação e até aqueles que são figurinhas
repetidas no pódio.
A dona de
casa, Maria Bispo Rodrigues é uma dessas figuras. Aos 72, a "Tia
Maria" - como é chamada por todos os corredores - chama a atenção
pelo exemplo de disposição e superação. Moradora da Vila Bom Jesus, zona leste
de Porto Alegre, Tia Maria participa de quase todas as corridas
realizadas em Porto Alegre e com duas marcas registradas: o grito de resposta
aos corredores que a chamam pelo nome, "- Vamos lá, meu
filho!", e os chinelos Havaianas com os elásticos no calcanhar.
"Não troco meus chinelos por nada, eles são bem mais confortáveis que
esses tênis de vocês", disse.
Tia Maria, que também não tira a camiseta do
time do coração, o Grêmio, participou de sua primeira corrida em 1988, na
primeira edição da Corrida pela Vida. Segundo ela, um panfleto achado na
rua despertou o interesse dela e a história começou. Desde então, a dona de
casa fica de olho no calendário de corrida da capital e se agenda para não
perder nenhuma delas. "Amo correr. Para mim é uma alegria participar
e estar no meio de todo esse pessoal. Quero participar de todas que
conseguir para que quando eu for bem velhinha e não conseguir mais
levantar da cama, eu possa contar as minhas histórias", afirmou.
Há seis anos, a corredora enfrentou o maior desafio da vida dela
e não foi uma distância maior ou uma prova com mais dificuldade, mas sim
um derrame. Um Acidente Vascular Cerebral (AVC) afetou o lado direito do corpo
da dona de casa e a derrubou. Só que Tia Maria, não ficaria mais de 15
dias acamada. "Com quinze dias de recuperação não aguentei e como já
estava melhor resolvi participar de uma prova. Hoje, vou mais devagar e
faço no máximo 10 km", disse.
Sobre os
chinelos, Tia Maria afirma que já recebeu várias ofertas para substituí-los por
tênis, mas declinou todas as doações. "Sou sincera quando falam que
querem me dar um tênis novo. Digo que até pego, mas não vou usar. Vou dar para
os meus filhos, meus netos. Agora se quiserem me dar um chinelo novo,
aceito sempre", afirmou.
Na
Track&Field Run Series Praia de Belas realizada no domingo 01.11.2015, em Porto
Alegre, Tia Maria somou mais 5 km para seu currículo. São 5 km de milhares
já percorridos e de centenas que ainda estão por vir. "Minha família me
chama de doida, mas não estou nem aí. É o que gosto de fazer e o que me
faz feliz. Venho correr e nem dou bola pra eles", encerrou.
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